ISOLAMENTO: um curta-metragem sobre pandemia, janelas e o tempo

Poucos dias após o início da quarentena, lá em março de 2020, eu comecei a filmar: meu apartamento vazio, as ruas paradas, os prédios vizinhos. Aquilo não tinha um objetivo final claro.

Acho que foi a forma mais simples que encontrei de manter um mínimo de sanidade dentro do que me era conhecido:
Gravar.
Produzir.

Com o passar dos meses, decidi que faria disso um curta-metragem sobre o isolamento. Segui gravando de março de 2020 até setembro de 2021, pouco depois da minha primeira dose de vacina. Em paralelo, passei a anotar todas as ideias e sentimentos bagunçados pelo isolamento no bloco de notas do celular. Em algum ponto, eu tinha uma quantidade considerável de registros em vídeo (a última vez que contei eram mais de 800) e vários textos que nunca pareciam bons o suficiente. No começo de fevereiro olhei a janela e percebi que os vizinhos que protagonizaram meu teórico curta-metragem de isolamento já não moravam mais aqui.
Fiquei mexida com essa revelação, e foi o impulso que faltava. Finalizei o texto, gravei a locução e terminei a edição.

Durante o período de isolamento, as janelas de casa foram minha maior conexão com o mundo, e também o lugar a que recorri incontáveis vezes para organizar as ideias. Colocar as coisas em perspectiva. A janela era o lembrete mais palpável de que eu não estava sozinha, que existia um mundo lá fora, mesmo quando o vazio do apartamento e tas preocupações pareciam transbordar.

Na ausência dos outros e na impossibilidade dos encontros, sobra muito tempo com a gente. Eu nunca me senti tão vulnerável e sensível como nesses dois anos.

Meu curta é fruto desse processo. Ele é também uma reflexão sobre a passagem do tempo, a vida e prioridades.


Using Format